quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

"Contemplo o lago mudo "

Contemplo o lago mudo
Que uma brisa estremece.
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece.

O lago nada me diz,
Não sinto a brisa mexê-lo
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.

Trêmulos vincos risonhos
Na água adormecida.
Por que fiz eu dos sonhos
A minha única vida?

Fernando Pessoa - Cancioneiro

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Flor com cheirinho a nêsperas ...

Esta planta de aroma doce , que ocorre dentro da família das Hidrangeaceae , tem o nome de Philadelphus coronarius .

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Lao Tse

Plena de vazio único
Inabalavelmente ancorada no silêncio
A multiplicidade dos seres eleva-se
Enquanto contemplo as suas mutações .
A multiplicidade dos seres
Regressa á sua origem .
Regressar á sua origem
É alcançar o silêncio
A calma permite encontrar o seu destino .
Reencontrar o seu destino reconcilia-nos de uma forma
inabalável .
A reconciliação inabalável conduz ao despertar .
Não conhecer o despertar
Conduz á confusão .
Lao Tse , Tao Te King

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Contra a indiferença

Foi recentemente que descobri o blog intitulado "Contra a Indiferença" da autoria de Fernando Nobre . Mesmo sem ter lido , ainda , todas as postagens ,uma delas despertou a minha atenção e por isso aqui vai esta postagem .
Fernando Nobre é neste sentido humanitário , alguém digno de admiração .
A minha visão do mundo , muito mais restrita , condição criada pela minha pouco ampla experiência de vida e pela minha tenra idade , toma novas proporções de cada vez que me cruzo com alguém com tão vastos conhecimentos .
Gostei de ler este blog , porque nos alerta para factos que por vezes olhamos mas não vemos . Aqui neste nosso cantinho , permanecemos por vezes isolados de tudo , e o que se trata aqui é na minha opinião de sacudir mentalidades . Fazer-nos despertar para factos concretos e bem reais .
É sempre enriquecedor , alargar horizontes , formular opiniões novas , enfim , crescer como seres humanos .
O título de uma das suas postagens " Para um Portugal e um Mundo mais justo e harmonioso " reflecte inequivocamente a sua linha de ideias , o seu alento e as esperanças que deveriam ser as de todos nós .
Bem haja ...
Aqui fica o link para o seu blog : http://fernandonobre.blogs.sapo.pt/
E ... boas leituras

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Laurinda Alves e a sua "poesia "

O pequeno texto que a seguir transcrevo , contém , em suas breves linhas um pequeno elixir para a alma , em tudo semelhante ao vigor de um dia de Primavera .
A beleza da sua escrita , transporta-nos de imediato para aquele lugar , a nossa mente viaja e por momentos o presente deixou de o ser , para haver somente nós e um livro .

É assim a escrita de Laurinda Alves , no livro "XIS Ideias para Pensar " , ... efectivamente dá-nos que pensar ... A passagem que a seguir transcrevo intitula-se "Renascer" e encerra em si um novo alento ... uma esperança renovada .

" ... Há os que viajam para fugir , para escapar ou para se distrair e que , afinal , se encontram na pureza sublime de uma serra ou na verdade das pedras antigas . Na vertigem transparente que existe entre o céu e a terra . Nas sombras que se desenham e multiplicam para lá dos limites . No ar que se respira no cimo de tudo , onde as vozes não chegam e todas as penas se esquecem .
Marguerite Youcenar escreveu um dia que ' o Outono e o Inverno limpam tudo pelo vazio e pelo vento ' e é também essa a grandeza da vida . A possibilidade de fazer de novo , de limpar tudo e recomeçar . De poder renascer .
Tudo passa e tudo se esquece ou transforma e é bom saber que acima das montanhas existe luz sobre azul e , debaixo desse imenso céu , permanecem intactas muitas coisas e muitas pessoas . Nem tudo se perde portanto .
E há depois os momentos em que as palavras se sentem e as emoções se calam . Há a fragilidade dos dias e uma força endecifrável que nos empurra e faz caminhar .
Para cá das montanhas há um lago onde tudo parece perfeito e possível e , muito depois do lago , existe uma estrada recta que atravessa campos infindáveis de flores amarelas , densas e sensuais . Apetece parar e tocar-lhes . No fim da estrada , uma linha de comboio envelhecida e coberta de ervas entre pedras . E a casa .
Uma casa de madeira e pedra com janelas grandes , de vidros inteiros . Uma sala e mais outra , cheias de livros sedutores e tão sensuais como as flores amarelas de colza . Umas escadas que sobem para um sótão com traves de madeira pintada de branco e mais janelas rasgadas para o céu e a copa das árvores . Pousados no chão e nas mesas , muitos livros e revistas que apetece ler demoradamente . Nas prateleiras , os filmes eternos e a música de uma vida inteira .
Ao longo da casa , uma varanda de madeira e uma rede para nos deitarmos a ouvir o rumor vegetal das plantas e o som cantado dos espanta-espíritos . E , por vezes , o ronco de um comboio que abranda sob a janela . Há naquela casa um gosto evidente pelo saber e uma necessidade de sonhar . E de viver .
E é na abstracção das horas de um tempo que parece suspenso que pressinto que não temos apenas um lugar no mundo . "
texto de Laurinda Alves