segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Laurinda Alves e a sua "poesia "

O pequeno texto que a seguir transcrevo , contém , em suas breves linhas um pequeno elixir para a alma , em tudo semelhante ao vigor de um dia de Primavera .
A beleza da sua escrita , transporta-nos de imediato para aquele lugar , a nossa mente viaja e por momentos o presente deixou de o ser , para haver somente nós e um livro .

É assim a escrita de Laurinda Alves , no livro "XIS Ideias para Pensar " , ... efectivamente dá-nos que pensar ... A passagem que a seguir transcrevo intitula-se "Renascer" e encerra em si um novo alento ... uma esperança renovada .

" ... Há os que viajam para fugir , para escapar ou para se distrair e que , afinal , se encontram na pureza sublime de uma serra ou na verdade das pedras antigas . Na vertigem transparente que existe entre o céu e a terra . Nas sombras que se desenham e multiplicam para lá dos limites . No ar que se respira no cimo de tudo , onde as vozes não chegam e todas as penas se esquecem .
Marguerite Youcenar escreveu um dia que ' o Outono e o Inverno limpam tudo pelo vazio e pelo vento ' e é também essa a grandeza da vida . A possibilidade de fazer de novo , de limpar tudo e recomeçar . De poder renascer .
Tudo passa e tudo se esquece ou transforma e é bom saber que acima das montanhas existe luz sobre azul e , debaixo desse imenso céu , permanecem intactas muitas coisas e muitas pessoas . Nem tudo se perde portanto .
E há depois os momentos em que as palavras se sentem e as emoções se calam . Há a fragilidade dos dias e uma força endecifrável que nos empurra e faz caminhar .
Para cá das montanhas há um lago onde tudo parece perfeito e possível e , muito depois do lago , existe uma estrada recta que atravessa campos infindáveis de flores amarelas , densas e sensuais . Apetece parar e tocar-lhes . No fim da estrada , uma linha de comboio envelhecida e coberta de ervas entre pedras . E a casa .
Uma casa de madeira e pedra com janelas grandes , de vidros inteiros . Uma sala e mais outra , cheias de livros sedutores e tão sensuais como as flores amarelas de colza . Umas escadas que sobem para um sótão com traves de madeira pintada de branco e mais janelas rasgadas para o céu e a copa das árvores . Pousados no chão e nas mesas , muitos livros e revistas que apetece ler demoradamente . Nas prateleiras , os filmes eternos e a música de uma vida inteira .
Ao longo da casa , uma varanda de madeira e uma rede para nos deitarmos a ouvir o rumor vegetal das plantas e o som cantado dos espanta-espíritos . E , por vezes , o ronco de um comboio que abranda sob a janela . Há naquela casa um gosto evidente pelo saber e uma necessidade de sonhar . E de viver .
E é na abstracção das horas de um tempo que parece suspenso que pressinto que não temos apenas um lugar no mundo . "
texto de Laurinda Alves


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