Enquanto remexia em fotos antigas na tentativa de restaurar a ordem ao caos que é o meu albúm de fotografias , deparei-me com esta imagem tirada em Óbidos na minha última visita . Naquele dia enquanto fotografava deixei-me levar pela memória de algo que havia lido há já algum tempo ... Por momentos o que li era o que sentia , o que via ... e tal como aquele texto brilhantemente escrito dizia ... ali fiquei a lembrar ...
Assim escreveu Laurinda Alves :
" A luz começa a quebrar e as sombras avançam pelos telhados da cidade.As casas ganham volume e as cores parecem mais definidas. E quentes .
O castelo , ao fundo , permanece ao sol mas a sombra vai tingindo a encosta . O azul do rio reflecte o azul do céu e destingue-os uma neblina púrpura , ainda muito leve e fina . Mais tarde , quando toda a cidade estiver á sombra , essa neblina há-de tornar-se espessa e cor de cinza . Em certas noites chega a tomar conta do céu , como se fosse um imenso véu . Ou um manto que cobre a cidade e nos protege antes da noite cair .
Os pássaros voam mais livres ao entardecer e cruzam-se vertiginosamente no ar . Nuvens de pássaros negros , de asas agitadas que vão e voltam sem se cansar . O vento sopra morno e as vozes , longínquas , descombinam-se com os gritos dos pássaros alegres e tudo soa a Verão e calor . (... )
Atrás das casas , entre os jardins de palmeiras e bungavílias , há um pátio de pedras antigas e paredes ocre , cobertas de hera e de outras folhas muito verdes e compridas , onde agora não se vê ninguém . (...)
(...) Fecho os olhos com força e vejo outros olhos fechados . Conheço a sua intensidade e sei de cor a sua cor . Abro os meus devagar para não chorar . A noite caiu . (...)
E eu continuo aqui , a pensar em ti . A guardar o pátio com o olhar e a lançar sobre ele toda a nostalgia dos dias que passaram e daqueles que hão-de-vir . E deixo-me ficar aqui pois é aqui que quero estar ."
excerto do livro ' Xis ideias para pensar' de Laurinda Alves
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